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PESQUISA – Por que dizer não é difícil para muitas pessoas e qual o impacto disso?

Entre minhas pesquisas e estudos sobre mudanças nas empresas é inevitável entender como as pessoas reagem ou são protagonistas nas mudanças. Sempre me interessei em compreender como nosso cérebro atua quando a mudança é dentro de nós.

Para tentar entender um pouco mais, às vezes utilizo rápidas perguntas em redes sociais e grupos de amigos. Uma delas foi sobre “o que você gostaria de mudar em você?”. As respostas foram as mais diversas, porém, chamou minha atenção a quantidade de pessoas que informavam que gostariam de ter mais capacidade em “dizer não”.

O assunto é muito familiar para mim, pois, por muito tempo tive a mesma dificuldade e sei o quanto ela pesa em nossa produtividade pessoal, impacto emocional e relacionamentos. Posso afirmar que aprendi muito e mudei bastante, mas sou permanentemente desafiado.

As pessoas com dificuldade de falar não, em sua maioria, são pessoas que querem legitimamente ajudar as outras e são cooperativas. Justamente por isso não querem transparecer a imagem de que não querem colaborar ou não se empatizam com a necessidade do outro.

O preço dessa postura costuma ser alto. Na maioria das vezes o medo de dizer não acarreta muitos problemas, entre eles, podemos resumir que faz você sentir-se sobrecarregado, obrigar-se a fazer algo que não deseja, agradar os outros e se desagradar, escolher o bem estar do outro e deixar o seu de lado e experimentar emoções negativas como raiva, frustração, estresse e medo.

Por isso resolvi organizar pela minha empresa, a Universidade da Mudança, uma pesquisa com mais rigor metodológico que foi aplicada em 186 pessoas entre julho e agosto de 2020. 

As principais percepções

Percebemos que nessa amostra heterogênea, 72% das pessoas relatam que têm dificuldade em falar não em situações mais delicadas ou que envolvem pedidos de outras pessoas.

O número é alto, mas sugere ser coerente se considerarmos que em nossa cultura latino-americana, naturalmente afetiva e com grande empatia, é comum querermos apoiar o outro, especialmente em situações difíceis.

Perguntamos aos respondentes sobre “para quais pessoas que é mais difícil negar a um pedido ou convite”. Apresentamos um conjunto de 10 públicos distintos onde era possível escolher mais de uma opção e incluía pessoas mais próximas, chefes e relacionamentos afetivos, entre outros.

A resposta mais frequente foi avaliada com 68,7% e apresentou como resposta “para amigos mais próximos”.

Curiosamente, esta e as demais respostas, mostraram algo que sugere uma condição muito comum: as pessoas muito próximas como pais, cônjuges e filhos não aparecem como os públicos mais desafiadores. Da mesma forma, as pessoas mais distantes como vizinhos ou pessoas desconhecidas recebem o não mais facilmente.

Essa análise inferencial demonstra sentido, pois, costumamos acreditar que os mais achegados receberão facilmente nossas justificativas enquanto que aqueles que são pouco conhecidos não necessitam de tanta consideração. O desafio maior para os que tendem a dizer sim está no “meio”, ou seja, aqueles que não são tão próximos (como os que moram em nossas casas) e nem tão distantes (como as pessoas que nos encontram na rua e pedem algum dinheiro).

Indutivamente podemos representar dessa forma:

Quando perguntamos “Por que você acredita que possui a dificuldade em dizer não” a maioria escolheu a afirmação que responde “tenho medo da outra pessoa ficar triste comigo”, representando 56,7%. Em segundo lugar apareceu “tenho medo de me verem como uma pessoa que não colabora” que soma 52,2% das respostas de múltiplas opções.

Isso confirma nossas pesquisas bibliográficas que explicam que a capacidade de dizer não é muito ligada com a necessidade de afeto e de imagem positiva.

Mas qual o impacto dessa postura? Fizemos uma pergunta aberta sobre “O que você sente logo após alguma situação em que percebe que deveria ter dito não mas acabou dizendo sim” e 130 pessoas responderam espontaneamente.

A absoluta maioria apresentou frases que, em síntese, demonstram arrependimento, remorso e frustração. Também apareceram respostas interessantes como “fico pensando por vários dias”, “fico imaginando alguma desculpa para usar em próximas oportunidades” e “sinto que minha vida fica desorganizada por ter tantas coisas pra fazer”.

Essa última frase também poderia ilustrar claramente a principal percepção na última questão da pesquisa, que abordou os impactos negativos que prejudicam as pessoas que costumam dizer sim para a maioria das situações.

As dezenas de respostas espontâneas se resumem em “sobrecarga de atividades”, “desorganização da própria vida”, “não priorização das próprias demandas” e até mesmo “desgaste mental e financeiro”.

O que fazer?

Em meus estudos tenho percebido um comportamento convergente entre aqueles que possuem melhores resultados, apesar da dificuldade de dizer não.

Em meu curso sobre “Aprender a falar não” abordo vários pontos e apresento as 20 técnicas para dizer não com mais segurança e facilidade. É desse curso que extraí algumas atitudes necessárias que abordo logo abaixo.

  • Cuidado com os folgados e manipuladores – Muitas pessoas percebem que o outro tem baixa coragem de dizer não e se aproximam propositalmente. É importante tentar identificar quem são elas.
  • Seja sempre honesto – Evite criar desculpas para dizer não, pois serão facilmente desmentidas em um mundo hiper conectado. Se o objetivo é não desagradar o outro, o que desagradaria mais do que saber que foi enganado?
  • Use bem as palavras – Começar a frase de negação com “eu entendo sua dificuldade” ou “fico feliz por ter me procurado” e, em seguida, explicar o porquê não pode atender ao pedido, facilita a percepção do outro sobre sua boa intenção.
  • Coloque na balança o que você perde se atender o pedido – Como diz o escritor Stephen Covey, “toda vez que você diz sim para uma situação em que deveria ter dito não, você disse sim para o outro e não para você mesmo”.
  • Se for preciso, faça terapia – isso ajudará a melhorar a comunicação e a autoestima desenvolvendo a assertividade.

Não se esqueça: dizer não pode ser dolorido e te deixar mal no momento, mas entenda que isso tudo vai te ajudar a ficar bem depois. Diga sim para você!

Ah! Se quiser saber mais sobre o curso que eu citei nesse texto, clique aqui.

Se desejar ouvir nosso podcast onde abordamos essa pesquisa e damos dicas sobre como falar não, clique abaixo:

Se quiser saber mais sobre como lidar com folgados e manipuladores, acesse nosso podcast no Spotify

Marcelo de Elias é conteudista e adora pesquisar sobre mudanças pessoais, sociais e empresariais. É fundador da Universidade da Mudança, professor de escolas executivas e palestrante.