Ao longo da minha trajetória trabalhando com gestão de mudanças e cultura organizacional, tenho me deparado com diversas formas de compreender e classificar a cultura das empresas.
Uma das tipologias mais conhecidas e úteis é a proposta por Charles Handy, filósofo e especialista em comportamento organizacional, que apresentou em seu livro Gods of Management (Oxford University Press, 1996) uma metáfora poderosa para explicar os diferentes tipos de cultura.
Handy utilizou a mitologia grega para tornar tangível um tema que muitas vezes parece abstrato. Segundo ele, quatro deuses simbolizam quatro arquétipos culturais encontrados nas organizações: Zeus, Apolo, Atena e Dionísio.
Essa analogia facilita o entendimento e fornece pistas práticas sobre como reconhecer, diagnosticar e gerir culturas distintas.

Cultura do Poder – O Reino de Zeus
A Cultura do Poder, que Handy também chama de cultura de clube, é representada por Zeus, o deus supremo. Aqui, o poder se concentra fortemente em uma figura central – geralmente o fundador, CEO ou líder carismático.
Nesse tipo de organização, as decisões são rápidas, a centralização é elevada e os relacionamentos pessoais, muitas vezes baseados em confiança e lealdade, são mais importantes que estruturas formais. Trata-se de um modelo que favorece agilidade em ambientes competitivos e incertos, mas que pode gerar dependência excessiva da figura central e limitar a autonomia dos demais.
Do ponto de vista prático, encontramos esse modelo com frequência em empresas familiares, startups em estágio inicial ou negócios em que a liderança forte é vista como diferencial competitivo.

Cultura de Papéis – A Ordem de Apolo
A segunda forma é a Cultura de Papéis, simbolizada por Apolo, o deus da ordem, da racionalidade e das regras. Essa é a cultura típica da burocracia estruturada, em que organogramas, normas, procedimentos e descrições de cargo são fundamentais para a organização funcionar.
Nesse contexto, o valor principal está na clareza de papéis e responsabilidades: cada pessoa sabe exatamente o que deve fazer e como deve se reportar. A previsibilidade e a estabilidade são grandes vantagens, tornando essa cultura adequada para organizações públicas, setores regulados e grandes corporações industriais.
O risco, no entanto, está na rigidez: processos excessivamente normatizados podem sufocar a inovação, gerar lentidão na tomada de decisão e desestimular a criatividade.

Cultura de Tarefas – A Estratégia de Atena
A Cultura de Tarefas tem como símbolo Atena, deusa da sabedoria e da estratégia. Nela, a organização é orientada pela resolução de problemas e pela busca de resultados.
Em vez de se basear em papéis fixos, a lógica aqui é a de formar equipes multidisciplinares para atacar problemas específicos. Os recursos e talentos são alocados conforme as demandas, e a avaliação se dá pela performance entregue.
Esse modelo é muito comum em empresas de tecnologia, consultorias, agências de inovação e organizações orientadas a projetos, onde a adaptabilidade é essencial. A vantagem é a flexibilidade e o foco em resultados. O desafio é manter coesão e alinhamento, já que a dinâmica pode gerar instabilidade se não houver clareza de propósito.

Cultura de Pessoas – A Liberdade de Dionísio
Por fim, temos a Cultura de Pessoas, representada por Dionísio, o deus do vinho e da celebração da individualidade. Nesse arquétipo, a organização existe para potencializar talentos individuais e ajudar cada colaborador a alcançar seus objetivos pessoais.
É uma cultura que coloca o indivíduo no centro: as pessoas não trabalham para a empresa, mas sim com a empresa, em um modelo de parceria. É comum em ambientes profissionais de alta especialização, como escritórios de advocacia, consultorias de ponta, universidades e empresas criativas.
Embora seja altamente motivadora para talentos que valorizam autonomia e reconhecimento, pode apresentar fragilidades na coordenação coletiva, já que a ênfase no indivíduo pode dificultar a construção de coesão organizacional.
O modelo de Charles Handy é um dos mais úteis para compreender a diversidade de culturas organizacionais. Ele não deve ser interpretado de forma rígida: muitas organizações apresentam misturas desses arquétipos, ainda que um deles se destaque.
Para nós, gestores, líderes e profissionais de RH, o mais importante é entender que não existe uma cultura “certa” ou “errada”. Cada tipo cultural tem suas forças e riscos, e sua adequação depende da estratégia, do mercado e do momento da organização.
Na minha experiência aplicando metodologias de diagnóstico e transformação cultural, como a DAPAS (Definir – Avaliar – Priorizar – Agir – Sustentar), percebo que a clareza sobre o tipo de cultura vigente é um passo essencial para definir as ações de mudança. Sem esse entendimento, corremos o risco de propor iniciativas desalinhadas com a realidade simbólica e estrutural da empresa.
Portanto, compreender se sua organização está mais próxima de Zeus, Apolo, Atena ou Dionísio é uma ferramenta prática para gestão estratégica da cultura organizacional, um campo que impacta diretamente os resultados de negócio, a inovação e o engajamento das pessoas.
Referência principal: HANDY, Charles. Gods of Management: The Changing Work of Organizations. Oxford University Press, 1996. Outras referências utilizadas: conceitos de mitologia grega (Zeus, Apolo, Atena e Dionísio) e práticas de gestão cultural contemporâneas.
MARCELO DE ELIAS é Linkedin Top Voice. Mestre em inovação e design com MBAs em Estratégia (USP), Gestão de Pessoas (FGV), formação internacional em gestão da mudança em tempos desafiadores (University of Tampa/EUA) e pós-graduado em neurociência e psicologia positiva (PUC).
Conteudista especialista em liderança, protagonismo e gestão de mudanças, é professor da FGV, FDC e outras escolas de negócios. Escritor e fundador da Universidade da Mudança. Pioneiro no assunto “Inner Skills” no Brasil.
Atende grandes clientes como GPA/ Pão de Açúcar, Cobasi, Neoenergia, Leroy Merlin, SBT, Marisa, Carrefour, MSD/Merck, Elanco, Kawasaki, GM, Fiat, Raízen/Shell, DHL, Caixa, Bradesco, Unilever, Bettanin/InBetta, Sebrae, SESC, Sabesp, Banco da Amazônia, Justiça Federal, Ministério Público, INPE, Usiminas entre outros de diversos segmentos.
Através de mensurações na metodologia NPS junto aos contratantes, o índice de recomendação é de 100%. Top5 do CBTD, Top5 da KLA, Melhor palestrante de gestão de mudanças pela Associação Brasileira de Liderança.
As palestras não são “produtos de prateleira”, mas sim, projetos 100% personalizados e customizados para cada realidade, considerando as necessidades a serem atendidas, a cultura do cliente e o perfil do público.
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