Em tempos onde um dos assuntos mais falados é a morte do super guitarrista Eddie Van Halen aos 65 anos de idade, muitas coisas interessantes sobre sua vida e obra do músico ressurgiram e chamaram a atenção até mesmo daqueles que não eram fãs da mítica banda Van Halen.
Mas o que nem todo mundo sabe é que o Eddie é um dos grandes exemplos de criatividade e inovação. Ao longo de sua trajetória artística o músico sempre experimentou novas abordagens, técnicas e musicalidades. Podemos dizer que o Eddie Van Halen é um dos grandes gênios criativos que o mundo perdeu.
Para quem não acompanhou as notícias, saiba que Eddie Van Halen morreu no dia 6 de outubro de 2020 devido às complicações decorrentes de um câncer na garganta que ele tinha desde o ano 2000, quando precisou remover um terço de sua língua.
A imprensa noticiou que o câncer provavelmente afetou também o cérebro e outros órgãos do guitarrista, que, depois de tantos anos lutando contra a doença, não resistiu.
Eddie foi eleito o melhor guitarrista de todos os tempos por uma votação promovida pela revista Guitar World. O incrível é que o próprio músico revelou em uma entrevista que ele nunca foi capaz de ler a cifra de uma música. Em vez disso, ele aprendeu assistindo, ouvindo, improvisando e praticando muito.
É pouco provável que você não tenha ouvido falar da banda Van Halen, mas vale a pena explicar um pouco sobre ela. Trata-se de uma banda de hard rock norte-americana formada em 1972. Ela foi criada pelos irmãos nascidos em Amsterdã, nos Países Baixos, Eddie Van Halen e Alex Van Halen, que é o baterista da banda. Tempos depois, contou também com cantor David Lee Roth e o baixista Michael Anthony, entre outros músicos.
A banda já era conhecida em alguns bares de Los Angeles por tocar músicas covers e foi durante uma apresentação em 1976 que o baixista e vocalista do Kiss, Gene Simmons os viu tocando e os chamou para gravar uma fita demo, mas nenhuma gravadora se interessou. É que a banda tinha um estilo bem diferente do tradicional naquela época.
Tempos depois, um produtor da gravadora Warner Music os viu tocando no mesmo bar em que Gene Simmons encontrou-os em 76. Ele arriscou em contratar a banda para gravar um disco em maio de 1977.
Pronto! O álbum com o mesmo nome da banda se transformou em um dos discos mais vendidos da história do rock mundial.
A banda se tornou rapidamente muito famosa. Ela se tornou também conhecida não apenas pelo sucesso, mas também pelos dramas que ocorriam por ocasião das debandadas de antigos membros. As saídas múltiplas dos vocalistas David Lee Roth, Sammy Hagar e Gary Cherone, que foi da banda Extreme, foram cercadas de dúvidas e desentendimentos estranhos, incluindo várias declarações conflitantes entre os cantores e a banda.
Mas o que o Eddie Van Halen tem a ver com criatividade e inovação? Acompanhe as informações e você vai entender:
Sem medo de testar novas abordagens
Sabemos que um inovador precisa ser extremamente aberto às novas ideias e experimentar novas técnicas, mesmo que pareçam estranham em um primeiro momento. O guitarrista do Van Halen personifica exatamente esse papel.
Você já viu um guitarrista dando pequenas batidinhas nas cordas da guitarra lá no braço dela? Isso se chama “tapping” e foi o Eddie Van Hallen que popularizou e aperfeiçoou essa técnica. Na época quase ninguém fazia isso. Hoje em dia, quase todos fazem.
Além disso ele ampliou muito a utilização da alavanca da guitarra e usava e abusava das mudanças rápidas de tons, criando maravilhosos solos e riffs. Ele não foi o primeiro a utilizar o recurso, mas mostrou que ele poderia ir além de tudo que já havia sido feito até aquele momento.
Eddie quebrou muitos paradigmas na execução técnica e foi além dos limites da criatividade na busca por timbres e invenção de sons. Ele não se limitava a fazer o que os outros faziam.
Conhecimento técnico para criar algo inédito
Para ser inovador não basta ser criativo. É necessário empreender as mudanças e, sem dúvida, entender bem sobre as ferramentas disponíveis e tecnologias emergentes.
O guitarrista do Van Halen não era engenheiro de som, mas adorava pesquisar sobre os instrumentos e tecnologias. Ele criou uma guitarra 100% original, a lendária “Frankenstrat”, juntando peças de guitarras Gibson e Fender. O amplificador 5150 da marca Peavey foi criado a partir das especificações dele. O modelo foi customizado para seu gosto e se tornou muito popular e desejado depois disso. Por falar em sons customizados, Eddie criou o pedal “Phase 90” que tem um som futurista inédito para a época.
Conhecer as partes para entender o todo
Eddie Van Halen não era apenas guitarrista. Ele também era o tecladista da banda e sabia tocar muito bem o piano, baixo e bateria, além de arriscar em alguns vocais. Isso fazia dele um músico completo, mas, mais do que isso, um compositor perfeito.
Suas criações eram maravilhosas porque ele entendia todas as partes que compunham o todo. E o que é a inovação senão uma elaborada sinergia que considera todos as partes envolvidas?
Diversidade e respeito às diferenças
Se você deseja ser inovador precisa estar aberto à uma diversidade cognitiva. É preciso passear por diversas fontes, origens e evitar qualquer tipo de preconceito. O guitarrista do Van Halen era um apaixonado por música clássica e canções tradicionais holandesas. Muitos elementos dessas melodias serviram de inspiração. Ele absorvia de tudo: Eric Clapton, Jimi Hendrix, Jimmy Page, Brian May e Jeff Beck. Por isso as performances dele eram cheias de inovação, singularidade e muita inteligência criativa.
Por ser também um ótimo tecladista ele misturou a guitarra com o teclado, um instrumento até então não muito valorizado pelos roqueiros. A música “Jump” do Van Halen é um exemplo disso.
E sabe aquele solo de guitarra famosíssimo da música “Beat It” do Michael Jackson? O solo é provavelmente o mais conhecido da década de 80. Quem criou e gravou para o rei do pop foi ele, Eddie Van Halen. Em um período em que existia muito preconceito, ele derrubou muros ao tocar e compor com Michael Jackson. Essa música tornou-se um marco na história musical, onde as barreiras entre a música negra e branca começaram finalmente a ser quebradas.
Tem mais. Ele estava à frente de seu tempo quando abordou questões políticas como a desigualdade na letra e clipe da música “Right Now” e defendeu todas as formas de amor, incluindo entre pessoas do mesmo sexo, na música “I Cant´t Stop Loving You” de 1995.
Qual a maior lição que Eddie Van Halen deixa para os inovadores?
Penso que o maior ensinamento que esse mago holandês das guitarras nos deixou é que, para ser inovador, não podemos nos acomodar e nem ficar presos a estereótipos e nem ao lugar-comum. Não devemos repetir fórmulas de sucesso e nem copiar o que os outros já fizeram, pois, assim, chegaremos ao máximo até onde os outros já chegaram.
Ele também nos ensinou que, quando queremos algo, precisamos testar, treinar e se dedicar acima da média. Não devemos nos acomodar em fazer o mediano e que devemos aprender mesmo aquilo que não é nossa especialidade técnica.
Por fim, Eddie deixou claro que preconceito, paradigmas e mindset de escassez são terríveis para quem quer fazer a diferença, pois nos formatam com vieses que nos fazem enxergar apenas o que estamos acostumados a ver.
Van Halen merece nosso mérito e gratidão. Ele nos ensinou que é possível chegar muito longe quando se enxerga muito além. Obrigado Eddie!
Nesse artigo eu contei com o apoio dos seguintes textos:
“10 Inovações de Eddie Van Halen” de Thiago Boschese
“7 vezes em que Eddie Van Halen inovou na música e entrou para a história” de Leonardo Rodrigues
“Eddie Van Halen, 65 anos: genialidade, inovação e revolução” de Marcelo Moreira
Marcelo de Elias é mestre em inovação e design. Conteudista especialista em mudanças é professor da FGV, FDC e outras. É vocalista por hobby da banda Playmobill e os Aquaplays, especializada em rock dos anos 80 e 90.