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Não é para respeitar as diferenças!

Por Marcelo de Elias , Especialista em Cultura Organizacional, Mudanças e Liderança


Vivemos em um momento em que a diversidade é reconhecida como essencial para o sucesso das organizações. A pauta está presente em reuniões de diretoria, em relatórios de ESG, em eventos de inovação, em discursos de líderes e até mesmo nas salas de seleção de talentos.

A pergunta que faço, no entanto, é: estamos realmente entendendo o que a diversidade exige da liderança?

Muitos líderes acreditam que estão fazendo sua parte quando dizem que respeitam as diferenças. Mas eu preciso dizer algo que, à primeira vista, pode parecer provocador:

Não é para respeitar as diferenças. É para celebrá-las!

Pode parecer um simples jogo de palavras, mas essa mudança de perspectiva carrega um significado profundo — e essencial — para a construção de uma liderança verdadeiramente inovadora, inclusiva e transformadora.


Respeitar é o mínimo. Celebrar é o necessário.

Respeitar as diferenças, no fundo, pode ser uma forma de “aceitar” o que é diferente, mas, não necessariamente, ficar feliz com isso.

É como dizer: “eu aceito que você pense diferente, mas deixa eu te mostrar que estou certo”. O respeito, nesse sentido, acaba se tornando uma forma polida de tolerância. É importante, claro — mas é apenas o começo.

Celebrar as diferenças, por outro lado, é reconhecer o valor da diversidade como algo ativo, potente, criativo. É quando o líder não apenas permite a presença do diferente, mas o estimula, o escuta com curiosidade e o integra aos processos de decisão.

Celebrar é quando o líder, diante de uma ideia que desafia a sua, não tenta anulá-la, mas pergunta:

“E se juntássemos nossas visões para criar algo ainda melhor?”


A armadilha da unanimidade

O brilhante e irônico dramaturgo brasileiro Nelson Rodrigues já alertava:

“Toda unanimidade é burra.”

E ele tinha razão. Quando todas as pessoas em uma sala pensam igual, a inovação morre sufocada pela mesmice. Não há tensão criativa, não há conflito de ideias, não há abertura para o novo.

A liderança tradicional ainda valoriza o consenso rápido, o alinhamento automático, a harmonia superficial. Isso é confortável, sem dúvida. Mas também é estéril.

Aliás, vale lembrar a frase atribuída a Sigmund Freud:

“Se duas pessoas estão sempre de acordo em tudo, só uma está pensando.”

Verdade! Se duas pessoas pensam exatamente igual, alguém está sobrando. A divergência de ideias e opiniões é fundamental para o desenvolvimento de um relacionamento saudável e para a progressão do conhecimento e da criatividade.

É importante que haja uma troca de ideias e perspectivas diferentes, permitindo que as pessoas se desenvolvam mutuamente e ampliem seus horizontes. Se duas pessoas pensassem exatamente igual, poderiam estar limitando seu potencial de crescimento e desenvolvimento, pois a falta de diversidade de pensamento pode impedir a inovação e o progresso.

O pensamento divergente é o motor da criatividade. E a divergência saudável é a matéria-prima da inovação. O papel do líder não é eliminar o conflito, mas sim mediar os atritos criativos que geram soluções mais completas e disruptivas.


O perigo da liderança autorreferente

Muitos líderes, infelizmente, ainda acreditam que liderar é ser a pessoa mais inteligente da sala. São os chamados “gênios solitários”, que esperam que sua equipe apenas execute ideias que eles próprios já definiram. Nesse modelo, a diversidade se torna uma ameaça, e não uma oportunidade.

Uma liderança autorreferente é aquela centrada excessivamente em si mesma. O líder autorreferente toma decisões com base apenas nas suas próprias experiências, crenças, referências e visões de mundo, desconsiderando — ou minimizando — as contribuições e perspectivas dos outros. Ele acredita que, por estar em posição de liderança, sua visão é automaticamente a mais correta ou relevante.

Imagine a seguinte cena: o líder convoca uma reunião e diz que quer ouvir sugestões para resolver um problema. Mas antes de dar espaço para o grupo, ele mesmo apresenta sua ideia “genial”.

O que acontece? Naturalmente, os demais tendem a concordar, complementar ou apenas girar em torno da proposta inicial. O espaço para o pensamento divergente desaparece.

Esse comportamento pode não ser intencional, mas é altamente limitador. O líder autorreferente costuma:

  • Focar mais em convencer do que em compreender;
  • Valorizar mais as ideias que confirmam seu ponto de vista (viés de confirmação);
  • Interpretar o ambiente e os desafios da equipe sempre com base nos próprios filtros, sem considerar o contexto dos outros;
  • Não escutar de verdade, apenas esperar o momento de falar;
  • Sentir-se ameaçado quando alguém propõe algo que contradiz sua opinião;
  • Acreditar que sua trajetória profissional é suficiente para tomar decisões sozinho.

Em essência, é o líder que se coloca como medida de tudo — e isso representa um risco grave para a inovação, o engajamento da equipe e a construção de ambientes diversos e saudáveis.


Por que isso é perigoso?

A liderança autorreferente cria ambientes de trabalho:

  • Pobres em diversidade cognitiva, pois só as ideias parecidas com as do líder são validadas;
  • Pouco participativos, já que as pessoas percebem que suas contribuições não serão realmente consideradas;
  • Estagnados, pois o grupo se acomoda à lógica de seguir ordens e não de cocriar soluções.

Além disso, esse tipo de liderança desestimula o protagonismo e afeta a segurança psicológica as pessoas deixam de se posicionar, de experimentar e até de apontar problemas, por receio de contrariar quem “sempre sabe o melhor caminho”.


Diversidade não é uma agenda de RH. É uma estratégia de liderança.

A diversidade organizacional, quando bem compreendida, não é um “departamento” nem uma “iniciativa pontual”. Ela é uma competência estratégica que precisa estar no centro da cultura e da forma de liderar.

Muitas vezes, reduzimos o debate da diversidade a questões identitárias — gênero, raça, orientação sexual, idade, deficiência. Tudo isso é fundamental, sem dúvida. Mas há um nível mais sutil e igualmente importante: a diversidade cognitiva.

A diversidade cognitiva diz respeito à variedade de maneiras de pensar, resolver problemas, interpretar o mundo. É o que faz com que pessoas com diferentes formações, experiências e repertórios consigam oferecer olhares complementares sobre os mesmos desafios.

E é justamente aí que a liderança precisa agir. Um bom líder não apenas “aceita” que alguém pense diferente. Ele busca ativamente essa diferença. Ele pergunta:

“Alguém tem uma visão contrária à maioria?” “Quem aqui vê esse problema por outro ângulo?” “Temos todos o mesmo ponto de vista. Isso é um sinal de que estamos perdendo algo?” Precisamos de ideias diferentes, quem pode nos ajudar?

Essa postura exige humildade, curiosidade e coragem. E, claro, requer que o ambiente organizacional ofereça segurança psicológica para que essas vozes divergentes possam se expressar sem medo.


O “e” no lugar do “ou” — e depois o “e se”

O mundo ainda pensa em termos binários. É certo ou errado. É bom ou ruim. É minha ideia ou a sua.

Mas a liderança transformadora substitui o “ou” pelo “e”?:

“É preto e branco. É racional e emocional. É passado e futuro. É tradição e inovação”

Para isso, que tal usar o “e se…”?:

“E se a gente experimentasse outro caminho?” “E se juntássemos ideias opostas que parecem?” “E se quebrássemos o padrão?”

Esse é o tipo de liderança que abre portas para a inovação verdadeira. Porque reconhece que a construção de algo novo exige desconstrução, risco, experimentação e, acima de tudo, colaboração entre o diferente.


O líder que celebra diferenças é o líder que constrói futuro

Celebrar as diferenças é, antes de tudo, uma escolha. Uma escolha por liderar com consciência, com visão ampla e com propósito.

É saber que a pluralidade não enfraquece uma equipe — ela a fortalece. É entender que não precisamos todos pensar igual — precisamos, sim, caminhar juntos com o mesmo propósito, mesmo que por caminhos diferentes.

E mais importante: é perceber que, em tempos de complexidade e mudanças rápidas, os melhores resultados virão justamente da tensão criativa entre ideias opostas que, ao invés de se anularem, se somam.


Para refletir:

  • Você, como líder, está apenas respeitando ou de fato celebrando as diferenças na sua equipe?
  • Em suas reuniões, há espaço real para o contraditório?
  • Você valoriza mais a conformidade ou a ousadia intelectual?
  • O quanto você realmente aprende com quem pensa diferente de você?
  • Você é aquele que dá sua opinião e ideia por último?

A liderança do futuro não é sobre controle. É sobre conexão. Não é sobre ter todas as respostas. É sobre saber fazer as perguntas certas — e ouvir, com atenção, todas as vozes.


Respeitar é o mínimo. Celebrar é o necessário. Valorizar é o diferencial. Essa é a liderança que precisamos cultivar.

Assista um pequeno trecho de uma palestra minha em um evento de líderes:

Se você chegou até aqui, fica o convite: compartilhe esse artigo com outros líderes que você acredita que também estão prontos para ir além do respeito e construir times mais diversos, criativos e potentes.


Marcelo de Elias é professor, palestrante e especialista em liderança, mudanças e cultura organizacional. Idealizador da Universidade da Mudança, ajuda empresas e líderes a prosperarem em cenários de transformação.

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