Por Marcelo de Elias – Especialista em Mudanças, Cultura Organizacional e Liderança
Na natureza, sobreviver não é privilégio do mais forte, mas do mais adaptável.
“Não é o mais forte das espécies que sobrevive, nem o mais inteligente, mas o que melhor se adapta às mudanças.”, já dizia Charles Darwin, um grande naturalista, geólogo e biólogo britânico que se tornou célebre por seus avanços sobre a evokução das espécies biloógicas.
O camaleão, por exemplo, não muda de cor por capricho ou vaidade, mas para se proteger, se comunicar ou se ajustar ao ambiente. Sua habilidade de transformação é um mecanismo de inteligência natural. Uma estratégia de sobrevivência baseada na capacidade de ler o contexto e responder a ele com agilidade.
As árvores das florestas mais antigas sabem exatamente o momento de florescer, frutificar, podar-se e, até mesmo, recolher-se. Elas não resistem às estações; elas se alinham a elas.
Em vez de brigar com o inverno, recolhem energia. Quando a primavera chega, explodem em vitalidade. Essa sabedoria silenciosa da natureza nos ensina que mudar não é um ato de fraqueza, mas de inteligência adaptativa.
As aves migratórias percorrem milhares de quilômetros em busca de condições mais favoráveis. Elas não permanecem onde o clima castiga ou onde o alimento escasseia. Elas leem os sinais do tempo e do espaço e agem com propósito claro: sobreviver. Se continuassem presas a um único lugar, pereceriam.
Até mesmo as pedras — que parecem inertes — nos ensinam algo sobre mudança. O rio, com sua correnteza persistente, esculpe as rochas ao longo dos séculos. E elas se deixam moldar. O resultado? Cânions impressionantes, cavernas incríveis, paisagens de tirar o fôlego. A pedra que resiste ao rio se parte. A que se permite esculpir, se torna um forma de arte natural.
Os corais, estruturas aparentemente frágeis, criam ecossistemas inteiros. Eles se expandem, se conectam, se regeneram. Quando o ambiente muda, os corais que sobrevivem são aqueles capazes de se recompor, de interagir com o novo, de cooperar com outras formas de vida.
A capacidade de mudar dos corais é comunitária, colaborativa: uma bela metáfora para o que também precisamos desenvolver nas organizações e nas relações humanas.
Essa capacidade de se adaptar proativamente, mesmo que instintamente, servem de explo para nós em tempos tão imprevisíveis e disruptivos.
Vivemos uma era marcada por mudanças cada vez mais rápidas, inesperadas e complexas. O que funcionava ontem pode estar obsoleto hoje. E o que é verdade agora, talvez nem exista amanhã.
Nesse cenário, não basta aceitar a mudança: é preciso desejá-la, promovê-la e estar preparado para vivê-la com inteligência, flexibilidade e propósito.
É nesse contexto que tenho usado o termo “Mudabilidade” — um neologismo, não tão comum e pouco utilizado, que define, para mim, a disposição ativa e consciente de indivíduos, equipes ou organizações para se transformarem de forma contínua, intencional e adaptativa.
Trata-se de algo mais profundo do que simplesmente ser flexível ou resiliente. É uma habilidade combinada com atitude, senso de urgência e protagonismo.
Mudabilidade não é mutabilidade
Vale fazer uma distinção importante: mutabilidade é um termo comum e existente na língua portuguesa e remete à ideia de algo que pode mudar, por ser instável ou sujeito a transformações. No entanto, mutabilidade carrega uma conotação mais passiva e técnica, usada muitas vezes em contextos científicos ou jurídicos.
Mudabilidade, por outro lado, é uma escolha. É uma abertura proativa ao novo. É a qualidade de quem enxerga as transformações não como ameaças, mas como oportunidades para crescer, ajustar rotas, reinventar-se e fazer melhor.
Se a mutabilidade é uma possibilidade, a mudabilidade é uma vontade.
Mudabilidade, em minha opinião, preserva uma relação direta com outro termo que venho trabalhando a muitos anos, a expressão adaptabilidade proativa, que é a capacidade não apenas de reagir às mudanças quando elas se impõem, mas de antecipá-las, desejá-las e provocá-las com intencionalidade e visão de futuro.
Profissionais e empresas com alta mudabilidade não esperam que os problemas batam à porta para só então agir. Eles se transformam com base nas tendências e percepções de futuro.
Cultivam uma mentalidade futurista e estratégica, que os leva a reinventar-se continuamente para estarem prontos antes mesmo da chegada do novo momento. Assim, mantêm-se relevantes, preparados e à frente em um mundo onde a estagnação não é mais uma opção.
Por que a Mudabilidade é tão urgente no mundo atual?
As organizações enfrentam, atualmente, cenários marcados por incertezas macroeconômicas e geopolíticas, que tornam o planejamento estratégico mais desafiador e exigem agilidade nas decisões.
Além disso, vivem sob o impacto de transformações digitais constantes, que não apenas mudam processos, mas redesenham modelos de negócio inteiros. Novos modelos de trabalho e gestão de pessoas também impõem uma revisão nas formas de liderar, engajar e reter talentos, especialmente diante de consumidores cada vez mais conscientes, exigentes e conectados, que esperam autenticidade, agilidade e responsabilidade das marcas.
Soma-se a isso a crescente pressão por inovação, práticas sustentáveis e atenção ao ESG, que já não são diferenciais, mas exigências do mercado e da sociedade. Por fim, há ainda as mudanças geracionais e culturais profundas, que alteram os valores, as prioridades e as formas de se relacionar dentro e fora das organizações.
Neste ambiente, a capacidade de mudar rapidamente, de forma estratégica e com engajamento emocional, deixou de ser diferencial e se tornou condição básica de sobrevivência.
Mas essa mudança não se dá apenas por novas tecnologias ou reestruturações. Ela exige uma mentalidade específica, uma cultura propícia à aprendizagem, à humildade evolutiva e ao protagonismo. É aí que entra a mudabilidade como competência-chave da atualidade.
A “mudabilidade” como competência profissional e cultural
Podemos entender a mudabilidade em três dimensões complementares:
- Pessoal – A disposição de rever crenças, desapegar de antigas formas de fazer, aprender com erros, experimentar o novo e sair da zona de conforto;
- Relacional – A capacidade de dialogar com diferentes pontos de vista, colaborar com equipes diversas, ajustar comportamentos e aprender em rede;
- Organizacional – A criação de culturas flexíveis, com estruturas menos engessadas, incentivo à inovação e gestão voltada ao futuro.
Empresas que possuem altos níveis de mudabilidade não se tornam reféns do passado. Elas mantêm o que funciona, mas estão sempre de olho no que precisa ser ajustado. São empresas que promovem o aprendizado contínuo, escutam suas pessoas, testam novas ideias e entendem que mudança não é projeto com começo, meio e fim. É um estado permanente.
Como desenvolver a Mudabilidade?
Embora pareça algo subjetivo, a mudabilidade pode, e deve, ser cultivada de forma prática, intencional e contínua.
Ela não surge do acaso, mas do esforço consciente para se tornar uma pessoa, equipe ou organização mais preparada para lidar com a impermanência e as transformações.
A seguir, apresento sete ações poderosas que ajudam nesse desenvolvimento:
1. Adote uma mentalidade de aprendiz permanente
A mudança começa quando aceitamos que não sabemos tudo e que o conhecimento é um processo vivo. Pratique a mentalidade de crescimento, aquele que enxerga erros como oportunidades de aprendizado e não como falhas irreversíveis. Pergunte-se com frequência: o que posso aprender com isso?
Busque novas leituras, converse com pessoas de diferentes gerações e áreas, participe de cursos, mentorias ou eventos. Estar em constante aprendizado amplia a capacidade de adaptação e inovação.
2. Questione padrões, rotinas e zonas de conforto
Identifique hábitos que se repetem apenas por tradição ou comodismo. Aquilo que “sempre foi assim” pode estar justamente atrasando sua evolução.
Desenvolver mudabilidade significa cultivar o olhar crítico e curioso sobre tudo o que fazemos. Pergunte-se: isso ainda faz sentido? Existe uma forma melhor ou mais eficiente de fazer isso? Pequenos ajustes diários promovem grandes mudanças a longo prazo.
3. Crie e valorize espaços de escuta e feedback
A mudança não acontece em isolamento. Desenvolver mudabilidade também envolve ouvir outras perspectivas, mesmo (ou especialmente) aquelas que desafiam nossas certezas. Busque o feedback com humildade e sem defesa automática. Estimule nas equipes uma cultura de conversa franca, escuta ativa e trocas genuínas.
Isso não apenas acelera a aprendizagem, como também fortalece a confiança e o espírito de evolução coletiva.
4. Exercite o desapego inteligente
Mudar implica abrir mão. De processos, ferramentas, ideias ou até mesmo de certezas que já não servem mais ao propósito. Isso não significa abandonar tudo o tempo todo, mas sim avaliar com honestidade o que está obsoleto.
Apegos excessivos ao passado são inimigos da inovação.
5. Celebre a evolução, não apenas os resultados finais
Empresas e pessoas com alta mudabilidade reconhecem que o sucesso não está apenas no destino, mas no caminho percorrido. Valorize o progresso, por menor que seja. Comemore experimentos que não deram certo, mas geraram aprendizado. Transforme tentativas em conquistas de sabedoria.
Essa prática reduz o medo de errar, encoraja a ousadia e torna a mudança mais leve e natural.
6. Estude e analise tendências nas empresas, sociedade e tecnologia
Desenvolver mudabilidade exige visão de futuro. Esteja atento ao que está mudando no mundo: novos comportamentos sociais, tecnologias emergentes, mudanças regulatórias, transformações culturais e demandas de mercado.
Faça da análise de tendências um hábito estratégico. Quando você compreende para onde o mundo está caminhando, aumenta sua capacidade de antecipar movimentos, inovar com propósito e se preparar melhor para o que vem.
7. Não atue apenas nas urgências: planeje, previna e antecipe
Um dos sinais de baixa mudabilidade é a gestão reativa, que vive apagando incêndios.
Adote uma postura preventiva e proativa, com planejamento consciente, leitura de cenários e atenção às mudanças sutis no ambiente. Desenvolva a habilidade de agir antes que os problemas se tornem crises.
Mudar por estratégia é muito mais saudável!
Mudabilidade no dia a dia: onde aplicar?
A mudabilidade, quando compreendida como uma competência prática, precisa se manifestar no cotidiano, nos comportamentos e decisões reais de pessoas, líderes e organizações. Seu valor se torna evidente quando conseguimos aplicá-la nos diferentes níveis da vida profissional.
Na carreira, por exemplo, a mudabilidade é o que nos permite crescer sem ficar presos a um único cargo, função ou conjunto de habilidades. Profissionais com alto nível de mudabilidade são aqueles que se adaptam com agilidade a novas funções, que se mostram abertos a transitar entre áreas, aprendendo com cada movimento, mesmo quando ele exige desconforto ou perda temporária de controle.
São pessoas que compreendem que o sucesso futuro depende da atualização constante, especialmente em relação às habilidades digitais, comportamentais e estratégicas.
Elas não resistem às mudanças de estrutura ou às novas demandas do negócio; ao contrário, exercitam sua inteligência emocional para entender o contexto, ajustar-se com equilíbrio e transformar cada transição em uma oportunidade de fortalecimento e reinvenção.
Já no papel da liderança, a mudabilidade se traduz na habilidade de guiar a transformação pelo exemplo. Líderes verdadeiramente mudáveis não são aqueles que apenas “dizem que apoiam a mudança”, mas sim os que vivem a mudança na prática: questionam suas certezas, se colocam como aprendizes, escutam suas equipes com empatia e têm coragem de romper padrões quando necessário.
Eles cultivam ambientes psicologicamente seguros, onde as pessoas sentem que podem errar, propor, experimentar e ser quem são, sem medo de retaliação. Além disso, reconhecem o valor de ideias que desafiam o status quo e estimulam a autonomia das equipes, sabendo que empoderar pessoas é essencial para que a mudança seja sustentável e compartilhada.
No plano mais amplo da cultura organizacional, a mudabilidade exige uma revisão profunda dos modelos mentais que sustentam os comportamentos coletivos. Isso significa abandonar a rigidez de estruturas hierárquicas, processos engessados e zonas de conforto institucionais, em troca de mais agilidade, flexibilidade e abertura à experimentação.
Organizações com culturas “mudáveis” criam ciclos curtos de tentativa e aprendizado, incentivam testes controlados de novas ideias, e não punem o erro honesto. Nesses ambientes, a mudança não é algo que “vem de fora” ou que acontece “de tempos em tempos”; ela é parte da identidade da empresa, um traço da sua personalidade organizacional.
Assim, a mudabilidade torna-se uma força natural e permanente que impulsiona inovação, adaptabilidade e longevidade.
A aplicação da mudabilidade é o que transforma intenções em práticas. Ela é a base para uma evolução contínua, conectada com os tempos atuais e necessária para que pessoas e empresas se mantenham relevantes, humanas e prontas para o futuro.
“Mudáveis” e melhores
A mudança não precisa ser traumática. Quando compreendida como parte natural da evolução humana e organizacional, ela se torna uma aliada poderosa do crescimento.
Por isso, a ideia de mudabilidade é um chamado à ação. Uma bandeira para aqueles que compreendem que o futuro será dos adaptáveis, dos questionadores, dos que evoluem — não por obrigação, mas por consciência.
A Mudabilidade é um convite à reinvenção constante. A pergunta que fica é: você está preparado para praticá-la?

MARCELO DE ELIAS é Linkedin Top Voice. Mestre em inovação e design com MBAs em Estratégia (USP), Gestão de Pessoas (FGV), formação internacional em gestão da mudança em tempos desafiadores (University of Tampa/EUA) e pós-graduado em neurociência e psicologia positiva (PUC).
Conteudista especialista em liderança, protagonismo e gestão de mudanças, é professor da FGV, FDC e outras escolas de negócios. Escritor e fundador da Universidade da Mudança.
Pioneiro no assunto “Inner Skills” no Brasil.
Atende grandes clientes como GPA/ Pão de Açúcar, Cobasi, Neoenergia, Leroy Merlin, SBT, Marisa, Carrefour, MSD/Merck, Elanco, Kawasaki, GM, Fiat, Raízen/Shell, DHL, Caixa, Bradesco, Unilever, Bettanin/InBetta, Sebrae, SESC, Sabesp, Banco da Amazônia, Justiça Federal, Ministério Público, INPE, Usiminas entre outros de diversos segmentos.
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