Arthur era um gerente excepcionalmente talentoso, conhecido por sua habilidade em liderança e motivação de equipes. No entanto, como todo ser humano, Arthur tinha seus desafios internos.

Certa vez, a empresa enfrentou uma situação crítica em que precisavam atender a um prazo apertado para um cliente importante. A pressão era imensa, e Arthur estava ciente da importância de manter sua equipe focada e motivada para alcançar o objetivo.

Nesse momento de tensão, suas inseguranças pessoais começaram a emergir. Ele temia que, se a equipe falhasse, isso refletisse diretamente em sua capacidade de liderança. Essa preocupação constante o levou a adotar uma abordagem excessivamente controladora e microgerenciadora.

Enquanto os funcionários trabalhavam intensamente, Arthur se viu incapaz de confiar plenamente em suas habilidades e delegar tarefas de forma efetiva. Ele queria garantir que tudo fosse feito à sua maneira, acreditando que era a única forma de sucesso. Essa postura sufocante começou a minar a autonomia e a criatividade da equipe.

Embora o projeto tenha sido entregue dentro do prazo e com sucesso, o clima no escritório ficou tenso. Os colaboradores se sentiram desvalorizados e desmotivados, pois suas contribuições foram ignoradas em favor das opiniões rígidas de Arthur. Muitos começaram a questionar suas próprias habilidades, temendo que seus esforços nunca fossem suficientes.

Essa história é real e eu tive a oportunidade de conhecer o Arthur (apesar do nome verdadeiro dele não ser esse). Ele me procurou para conversar sobre essa situação.

Em nossa franca conversa, confrontado com a realidade dos efeitos de suas ações, Arthur percebeu que sua insegurança e medo de falhar o levaram a tomar decisões prejudiciais. Ele se viu em uma encruzilhada e entendeu que precisava enfrentar suas emoções internas e aprender a confiar em sua equipe nesses momentos.

Esse é um típico caso de que não bastam hard skills e soft skills para os líderes. Ambas são muito importantes e geradoras de resultados, mas, quando falta a “liderança interna”, ou seja, faltam algumas Inner Skills, a potencialidade do desempenho é fortemente prejudicada.

A verdadeira liderança não se trata apenas de conhecer técnicas e habilidades, mas de ser capaz de lidar com suas próprias questões emocionais e desenvolver uma conexão genuína com sua equipe.

Os dois reinos em que nossa mente vive

Existem dois reinos distintos que coexistem: o mundo externo e o mundo interno. O mundo externo representa a realidade física e material que percebemos através dos sentidos, cujas informações se refletem em nosso mundo interior.

Grande parte de nossa existência é dedicada a preocupações relacionadas ao mundo exterior: como interagimos com as outras pessoas nele e o que devemos alcançar e conquistar.

Por outro lado, o mundo interior é uma esfera completamente diferente – um domínio repleto de pensamentos, emoções, sensações, estados de espírito, desejos, vontades, mentalidades, atitudes e preferências. É uma dimensão onde experienciamos e “somos”, em vez de simplesmente “fazer ou ter”.

A dicotomia entre esses dois mundos é fascinante. Enquanto muitos de nós dedicamos tempo considerável a moldar nossa presença no mundo externo, frequentemente negligenciamos a exploração e o entendimento pleno do mundo interior.

A busca incessante por realizações materiais e objetivos tangíveis muitas vezes nos afasta do autoconhecimento e da compreensão de nossas verdadeiras motivações e paixões internas.

Para o líder, isso não é diferente. Pelo contrário: a liderança costuma ser cobrada por resultados e comportamentos que são observados no mundo exterior, apesar de que é a dimensão interior que impulsiona tudo isso.

É essencial encontrar um equilíbrio saudável entre esses dois mundos, reconhecendo a importância do mundo exterior enquanto nutrimos e cultivamos nosso mundo interior. A autorreflexão e a prática da atenção plena podem nos guiar nessa jornada, permitindo que aproveitemos ao máximo nossa experiência de vida e construamos relacionamentos mais significativos com os outros e conosco.

Em última análise, é ao integrar e honrar tanto o mundo externo quanto o mundo interno que alcançamos uma existência mais gratificante e enriquecedora, alcançando não apenas o que almejamos, mas também aquilo que realmente somos.

Ser líder interior: a importância da autoliderança

Ao invés de buscar influenciar ou controlar o mundo exterior para mudar nossos sentimentos, é necessário explorar a liderança interna e aprender a conduzir a nós mesmos de forma eficaz. Essa área crucial, embora muitas vezes negligenciada, desempenha um papel fundamental em nosso bem-estar e crescimento pessoal.

A liderança interior é um processo que envolve autoconsciência, autoconhecimento, autogestão e autodesenvolvimento. Trata-se de estarmos cientes de nosso estado de ser e de nossa consciência interna. É compreender o que está acontecendo dentro de nossas mentes e corpos – nossos pensamentos, emoções, impulsos e desejos, bem como nossa energia e vibração.

Essa consciência nos permite otimizar, em tempo real, a maneira como vivemos cada momento, o significado que atribuímos aos acontecimentos, os valores e ideais que abraçamos, e como nos apresentamos ao mundo.

Claro que quando as coisas estão indo bem e todas as nossas necessidades são atendidas, é relativamente mais fácil nos conduzirmos de maneira positiva, embora ainda seja um desafio para muitos.

É especialmente difícil alcançar o melhor de nós mesmos quando enfrentamos momentos difíceis, quando nossas necessidades não são atendidas ou estão ameaçadas, ou quando somos provocados por outros e experimentamos medo, insegurança raiva ou dor.

Nesses momentos, nosso cérebro e sistema nervoso entram em alerta, e tendemos a agir de acordo com padrões adaptativos antigos para sobreviver – lutando, fugindo ou até mesmo congelando. Executamos e reforçamos esses antigos programas de proteção que desenvolvemos ao longo do tempo.

No entanto, a liderança interior nos oferece a oportunidade de transcender esses padrões e responder de forma mais consciente e sábia. Ao cultivarmos a autoconsciência, podemos identificar nossas reações automáticas e escolher conscientemente uma resposta mais alinhada com nossos valores e objetivos de vida.

Liderança Interior é a arte de guiar nossos reinos internos – navegando pelos labirintos de pensamentos, emoções, fisiologia, energia e vontade. É um processo contínuo e dinâmico de nos elevarmos ao ápice de nosso potencial, buscando a autorrealização e a expressão autêntica de quem somos.

Alimentamos nosso bem-estar e vivemos alinhados aos nossos valores, tudo isso enquanto influenciamos positivamente o mundo ao nosso redor e incentivamos outros a fazerem o mesmo.

Desenvolvendo a liderança interior, nos tornamos capazes de assumir o leme de nossa própria vida e navegar com maior sabedoria e resiliência, conduzindo-nos para um estado de bem-estar e autenticidade.

As Inner Skills e a jornada de transformação da liderança

A Liderança Interior é uma jornada de autotransformação constante, sempre voltada para o crescimento pessoal e o bem coletivo. Não se trata de um destino, mas de uma busca permanente para alinhar nossas ações com nossos valores mais profundos, enquanto capacitamos outros a fazerem o mesmo.

Como líderes de nossas vidas internas, somos catalisadores de mudança positiva, impulsionando um mundo mais saudável, compassivo e sustentável para todos.

No cerne da Liderança Interior está o autodescobrimento, autoconhecimento e autoconsciência. Confrontamos nossos medos e limitações, exploramos nossos sonhos e aspirações, e abraçamos nossas próprias vulnerabilidades. Ao conhecermos nossas próprias profundezas, nos tornamos líderes de nós mesmos, capacitados a direcionar nossa vida com propósito e clareza.

Para o líder, isso é altamente potencializador. Esse processo de autoliderança não se trata apenas de um esforço individualista, mas sim de cultivar conexões significativas com os outros. À medida que nos tornamos mais compassivos e empáticos com nós mesmos, somos capazes de estender essa compreensão aos que nos cercam. Reconhecemos que cada pessoa tem seus próprios desafios e jornadas, e buscamos apoiar o crescimento e a autenticidade de todos.

Desenvolver suas Inner Skills é o primeiro passo para se tornar um líder excepcional. Enquanto habilidades técnicas e sociais são cruciais, é o domínio do reino interior que realmente diferencia um líder de sucesso.

Ao aprimorar as Inner Skills, o líder consegue construir relações mais fortes, gerenciar conflitos de forma construtiva, lidar com situações inesperadas e ter mais saúde mental.

Como um especialista e pioneiro no tema, posso garantir que as Inner Skills se tornaram uma necessidade crítica no mundo dos negócios. Essas habilidades intangíveis se refletem na capacidade de motivar equipes, inspirar mudanças positivas e manter um ambiente de trabalho saudável.

Em um cenário onde a liderança eficaz é um fator determinante para o sucesso de uma empresa, é imprescindível que os líderes se dediquem a desenvolver suas Inner Skills constantemente. Ao investir no aprimoramento dessas competências, você estará preparado para enfrentar os desafios da liderança com mais confiança e eficiência.

Por onde começar? Pratique a autodescoberta. O primeiro passo é desenvolver a autoconsciência e o autoconhecimento.

O líder deve dedicar tempo à reflexão, identificando suas próprias forças, fraquezas, valores, crenças e emoções. Isso pode ser feito através da meditação, do autoquestionamento, terapia, coaching e até mesmo através de feedbacks construtivos de colegas e membros da equipe.

Investir na compreensão de nosso mundo interior pode ser uma jornada transformadora para a liderança. Ao mergulhar profundamente em nossos pensamentos, emoções e valores, podemos descobrir nossos verdadeiros propósitos e viver com maior autenticidade. Ao abraçar nossa dimensão interna, desenvolvemos empatia, compaixão e sabedoria, tornando-nos seres mais completos e conscientes.

Ou seja, líderes muito melhores!

MARCELO DE ELIAS é mestre em inovação e design com MBAs em Estratégia, Gestão de Pessoas, formação internacional em gestão da mudança em tempos desafiadores e pós-graduado em neurociências. Conteudista especialista em protagonismo e gestão de mudanças, é professor da FGV, FDC e outras escolas de negócios. Escritor e fundador da Universidade da Mudança. Pioneiro no assunto “Inner Skills” no Brasil.

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