“Eu não tenho tempo para essas coisas que não são importantes”.
Essa frase era corriqueiramente dita por André, o gerente industrial de uma grande empresa, toda vez que o RH o chamava para participar de um treinamento ou cobrando-o sobre os prazos para responder a avaliação de desempenho.
Ele não era necessariamente um líder antiquado ou rebelde. Era dedicado, vestia a camisa da empresa e não se furtava à responsabilidade de fazer a produção da fábrica acontecer, nem que isso custasse a ele algumas longas jornadas diárias, inclusive no final de semana.
O problema era a postura de “apagar incêndios”, típica de alguém que priorizava, exclusivamente, as questões operacionais.
Durante anos, ele brilhou como engenheiro de produção, resolvendo problemas complexos com maestria. Sua habilidade em encontrar soluções imediatas fez dele um ativo inestimável para sua equipe. Todos o respeitavam por sua perícia técnica, e ele estava confortável em sua zona de conforto operacional.
Tanta dedicação foi premiada: André foi promovido para esse importante cargo de liderança. Era uma ascensão esperada, mas também um desafio assustador. Ele estava acostumado a resolver problemas, mas agora precisava olhar para um quadro muito maior.
O foco nas tarefas diárias não era suficiente; ele precisava de uma visão estratégica e a capacidade de conduzir sua equipe na mesma direção.
Não era fácil para ele. Parecia que estava sempre atolado em detalhes operacionais, incapaz de ver o panorama geral. As decisões de longo prazo pareciam nebulosas, e ele estava perdendo o relacionamento com sua equipe, que ansiava por liderança inspiradora.
A história de André é muito comum em várias empresas. É um lembrete de que o desenvolvimento da gestão estratégica não é um destino, mas uma jornada. É uma habilidade que pode ser adquirida e refinada ao longo do tempo, e que transforma não apenas a carreira de um líder, mas também o destino de uma organização.
A mentalidade estratégica é essencial para líderes
Em um mundo empresarial em constante evolução, a capacidade de liderar de forma estratégica é essencial para o sucesso a longo prazo de qualquer organização.
A gestão estratégica não é apenas uma abordagem, mas uma mentalidade que capacita os líderes a antecipar desafios, identificar oportunidades e traçar um curso claro para o futuro.
É a capacidade de enxergar além das tarefas do dia a dia e planejar a longo prazo, alinhando os recursos da organização com os objetivos mais amplos.
Embora possa parecer uma habilidade inata para alguns, a verdade é que a gestão estratégica pode ser cultivada e aprimorada por meio de esforços conscientes e prática contínua.
Ela é uma habilidade que pode ser desenvolvida ao longo do tempo com a combinação certa de conhecimento, prática e mentalidade. É um investimento valioso que não apenas impulsiona o sucesso organizacional, mas também fortalece a capacidade de liderança individual.
A liderança é uma competência complexa e multifacetada que exige um equilíbrio delicado entre a gestão operacional, que se concentra na execução eficaz das tarefas diárias, e a visão estratégica, que impulsiona o futuro de uma organização.
Muitos líderes, especialmente aqueles que ascendem a partir de cargos operacionais, podem sentir-se mais à vontade com as responsabilidades do dia a dia do que com a formulação de estratégias de longo prazo.
Dilema do Especialista: a transição de um profissional técnico para o papel de líder
A transição de um profissional técnico para um cargo de liderança é um passo significativo em qualquer trajetória de carreira. No entanto, essa promoção traz consigo um desafio sutil, mas crítico: a tendência de permanecer enraizado em uma mentalidade operacional, em detrimento da visão estratégica.
Esse dilema é amplamente conhecido na literatura de gestão e liderança, e superá-lo requer uma abordagem consciente e uma busca contínua de desenvolvimento.
O “Dilema do Especialista” é uma armadilha que muitos líderes enfrentam. Aqueles que ascendem a partir de cargos técnicos são frequentemente escolhidos por sua competência operacional, mas essa expertise pode limitar sua capacidade de pensar a longo prazo.
Charles Handy, em seu livro “A Era do Paradoxo”, destaca como esses líderes podem encontrar dificuldades em adotar uma perspectiva mais ampla, enquanto Laurence J. Peter e Raymond Hull, em “The Peter Principle,” (O Princípio de Peter em português) alertam para o risco de serem promovidos “até um nível de incompetência”.
Superar o dilema do especialista e desenvolver uma visão estratégica na liderança é um desafio que exige comprometimento, aprendizado contínuo e adaptabilidade.
Os líderes que conseguem encontrar o equilíbrio entre a gestão operacional e a visão estratégica estão mais bem posicionados para orientar suas equipes e organizações em direção a um futuro mais promissor.
A jornada pode ser desafiadora, mas os benefícios a longo prazo para a organização e a carreira pessoal fazem dela um esforço que vale a pena.
Como os líderes podem superar esse desafio e desenvolver uma visão estratégica?
A gestão estratégica é uma competência valiosa que todo líder deve buscar desenvolver. Aqui estão algumas atitudes para o autodesenvolvimento dessa habilidade:
Aprimorar o Pensamento Sistêmico: A gestão estratégica requer uma compreensão profunda das interações complexas dentro de uma organização e entre ela e seu ambiente externo.
Desenvolver o pensamento sistêmico envolve a análise das conexões e dependências entre diferentes partes do negócio. A leitura de obras como “A Quinta Disciplina”, de Peter Senge, pode ajudar a desenvolver essa habilidade de ver o todo, não apenas as partes.
Busca Constante por Informações: A tomada de decisões estratégicas só pode ser eficaz quando baseada em informações sólidas. Isso significa que os líderes devem estar comprometidos em buscar e interpretar dados relevantes.
Livros como “Rápido e Devagar”, de Daniel Kahneman, podem ajudar a aprimorar a capacidade de avaliar informações de forma crítica.
Aprender com a Experiência: Não há substituto para a experiência prática quando se trata de gestão estratégica. A análise de casos reais, a participação em projetos estratégicos e a resolução de problemas complexos são maneiras eficazes de desenvolver habilidades estratégicas. É importante refletir sobre as experiências passadas e identificar lições que podem ser aplicadas no futuro.
Enxergar além: Cultivar uma mentalidade estratégica envolve pensar a longo prazo, estabelecer metas claras e manter o foco em objetivos de alto nível. Isso requer paciência e perseverança, pois os resultados estratégicos muitas vezes não são imediatos. A leitura de livros como “Comece pelo Porquê”, de Simon Sinek, pode ajudar a entender a importância de uma visão clara.
Liderar com Propósito: Um líder estratégico é motivado por um propósito maior do que apenas o lucro financeiro. Eles entendem o impacto social e ambiental de suas decisões e buscam um equilíbrio entre os interesses das partes interessadas. Livros como “Capitalismo Consciente”, de John Mackey e Raj Sisodia, exploram essa abordagem.
Desenvolver Habilidades de Comunicação: Uma estratégia brilhante é inútil se não for comunicada eficazmente à equipe. Desenvolver habilidades de comunicação é crucial para inspirar e fortalecer todos os membros da organização com a visão estratégica.
Uma liderança eficaz exige a capacidade de comunicar a visão estratégica de forma clara e inspiradora. Uma comunicação eficiente alinha a equipe com os objetivos de longo prazo e inspira todos a trabalharem em prol dessas metas.
Avaliar e Ajustar: A gestão estratégica envolve um ciclo contínuo de planejamento, execução, avaliação e ajuste. É importante ser flexível e adaptável, disposto a mudar de rumo quando necessário. Livros como “Estratégia Boa e Estratégia Ruim”, de Richard Rumelt, abordam a importância de uma estratégia sólida e como ajustá-la quando as circunstâncias mudam.
À medida que os líderes se esforçam para aprimorar suas habilidades de gestão estratégica, eles se tornam mais aptos a enfrentar desafios complexos e a conduzir suas organizações em direção a um futuro mais promissor.
Como as empresas podem desenvolver a capacidade estratégica nos líderes?
Quando a empresa investe na formação de líderes estratégicos, ela está investindo no seu próprio futuro e na sua capacidade de se adaptar e prosperar em um ambiente de negócios dinâmico e desafiador.
Como as empresas podem desenvolver líderes para que adotem essa postura estratégica? Aqui estão algumas estratégias fundamentais:
Identificar e Avaliar Potencial: O primeiro passo para desenvolver líderes estratégicos é identificar indivíduos com potencial para essa função. Essa ação evita problemas futuros e minimiza a dificuldade ainda na origem.
Isso pode ser feito por meio de avaliações de desempenho, observação direta e feedback de colegas e superiores. É importante procurar não apenas habilidades técnicas, mas também traços como pensamento crítico, capacidade de resolução de problemas e habilidades interpessoais.
Mentoria: A mentoria e o coaching desempenham um papel fundamental no desenvolvimento de líderes estratégicos. Líderes experientes podem orientar os líderes em ascensão, compartilhando suas próprias experiências, fornecendo orientação e desafiando seus pontos cegos. Essa orientação ajuda a moldar uma mentalidade estratégica e a desenvolver habilidades de liderança.
Programas de Desenvolvimento: As empresas podem criar programas de desenvolvimento de liderança que se concentrem especificamente em habilidades estratégicas. Isso pode incluir treinamento em análise de dados, tomada de decisões baseadas em evidências, pensamento sistêmico e gestão de riscos. Esses programas oferecem aos líderes a oportunidade de adquirir habilidades práticas e aplicáveis. O ideal é que os potenciais líderes sejam desenvolvidos antes de assumirem os cargos de gestão. Isso evita vários problemas.
Experiência Prática: A teoria é importante, mas a prática é essencial para o desenvolvimento de líderes estratégicos. As empresas podem oferecer oportunidades para líderes assumirem papéis desafiadores, como liderar projetos estratégicos, participar de iniciativas de mudança organizacional e tomar decisões de alto impacto. A experiência prática permite que os líderes apliquem suas habilidades e aprendizados em contextos reais.
Cultura de Aprendizado Contínuo: Promover uma cultura de aprendizado contínuo é crucial. Os líderes estratégicos estão sempre buscando novos conhecimentos, acompanhando as tendências do mercado e refinando suas habilidades. As empresas podem incentivar esse comportamento ao disponibilizar recursos de aprendizado, como cursos, workshops e acesso a especialistas.
Feedback Construtivo: O feedback regular e construtivo é uma parte fundamental do desenvolvimento de líderes estratégicos. Os líderes precisam saber onde estão acertando e onde podem melhorar. Criar um ambiente onde o feedback seja encorajado e bem-vindo promove o crescimento e a autocrítica.
Apoio da Alta Direção: A liderança sênior deve estar comprometida com o desenvolvimento de líderes estratégicos. Isso inclui o fornecimento de recursos, tempo e apoio para iniciativas de desenvolvimento. Quando a alta direção valoriza e investe no desenvolvimento de líderes, isso cria um ambiente propício para o crescimento estratégico.
Avaliação Contínua: A empresa deve acompanhar o progresso dos líderes em seu desenvolvimento estratégico por meio de avaliações regulares de desempenho, focando, em especial, o impacto de suas ações no clima organizacional (e não apenas medindo a entrega de resultados de curto prazo). Isso ajuda a identificar áreas de melhoria e ajustar o plano de desenvolvimento conforme necessário.
A base para o líder ser estratégico: focar na gestão de pessoas
No cenário de gestão contemporânea, o líder eficaz é aquele que reconhece a gestão de pessoas como o pilar fundamental para o desenvolvimento de uma abordagem estratégica bem-sucedida.
A relação intrínseca entre a gestão de pessoas e a estratégia organizacional é inegável e pode ser justificada por diversos argumentos sólidos.
As organizações bem-sucedidas compreendem que seu capital humano é um ativo estratégico essencial. São as pessoas que contribuem com suas habilidades, conhecimento e criatividade para a realização dos objetivos da empresa. Portanto, a gestão de pessoas se torna crucial para atrair, desenvolver e reter talentos que impulsionem o sucesso a longo prazo.
A principal argumentação de um gestor que não dá devida atenção às pessoas é quase que unânime: falta de tempo! Muitos dizem que não podem desviar o olhar das questões do cotidiano senão elas deixarão de acontecer. Já ouvi líderes dizerem, às vezes orgulhosos, que não conseguem tirar férias.
As questões operacionais e o dia a dia dos negócios realmente consomem muito tempo e energia.
A essência desse entendimento é essa: equipes empoderadas e autônomas cuidam melhor das questões cotidianas e operacionais, dando ao líder mais condições de focar nos temas mais estratégicos.
Nesse vídeo eu explico mais sobre essa ideia:
Um líder que se concentra na gestão de pessoas pode moldar e sustentar uma cultura que promova a inovação, a responsabilidade, a autonomia, o engajamento e a colaboração.
A gestão de pessoas eficaz cria equipes ágeis e resilientes, capazes de se adaptar rapidamente às mudanças de mercado e abraçar novas oportunidades.
Por isso, ela não deve ser vista como uma tarefa secundária, mas como um pilar fundamental sobre o qual a liderança estratégica deve se apoiar para alcançar resultados duradouros e sustentáveis.
Dicas essenciais para uma atuação mais estratégicas nos negócios
Aqui estão algumas orientações fundamentais para ajudar os líderes a garantirem seu olhar estratégico:
Equilíbrio entre curto e longo prazo: É crucial entender que a gestão operacional e a liderança estratégica não são mutuamente exclusivas. Elas devem coexistir de maneira complementar. Dedique tempo para tarefas operacionais, mas reserve tempo regularmente para pensar no futuro, analisar tendências do mercado e identificar oportunidades estratégicas.
Amplie sua perspectiva: Uma armadilha comum para líderes operacionais é focar demais nos detalhes e nas tarefas diárias, perdendo de vista a visão mais ampla. Busque informações externas, converse com especialistas em sua área e mantenha-se atualizado sobre as tendências da indústria. Isso o ajudará a tomar decisões informadas e estratégicas.
Defina metas estratégicas claras: Estabeleça metas de longo prazo que estejam alinhadas com a visão e os valores da organização. Essas metas devem ser desafiadoras, mas alcançáveis, e servir como um guia para suas decisões e ações diárias.
Desenvolva uma equipe de confiança: Uma liderança eficaz não depende apenas de suas próprias habilidades, mas também da capacidade de construir e liderar uma equipe de alto desempenho. Delegue responsabilidades operacionais para membros confiáveis da equipe e incentive-os a assumir responsabilidade.
Promova a inovação: Estimule um ambiente que encoraje a criatividade e a inovação. Às vezes, soluções operacionais eficazes podem nascer da quebra de padrões tradicionais. Incentive a busca de novas abordagens para os desafios cotidianos.
Aprenda com os erros e sucessos passados: Analise as experiências anteriores, tanto os sucessos quanto os fracassos, para extrair lições valiosas. Isso pode ajudar a moldar decisões futuras e aperfeiçoar a estratégia da organização.
Mantenha-se flexível: Embora a estratégia seja fundamental, a capacidade de se adaptar a mudanças inesperadas é igualmente importante. Esteja disposto a ajustar a estratégia quando necessário, com base em novas informações ou circunstâncias.
Comunique eficazmente a estratégia: Certifique-se de que toda a equipe compreenda a visão estratégica e como ela se relaciona com as operações do dia a dia. A comunicação clara e consistente é essencial para alinhar todos os membros da organização com os objetivos estratégicos.
Desenvolver um olhar estratégico enquanto se mantém comprometido com a gestão operacional pode ser desafiador, mas é um desafio que os líderes devem abraçar para liderar suas organizações para o sucesso a longo prazo.
A capacidade de equilibrar efetivamente essas duas dimensões da liderança é o que diferencia os líderes verdadeiramente excepcionais, capazes de conduzir suas equipes e suas organizações em direção a um futuro mais promissor.
Através de nossas palestras e programas de desenvolvimento, temos contribuído com várias empresas para que tenham líderes cada vez mais estratégicos. Se sua empresa precisa de ações desse tipo, saiba mais aqui: https://marcelodeelias.com.br/portfolio/
MARCELO DE ELIAS é mestre em inovação e design com MBAs em Estratégia, Gestão de Pessoas, formação internacional em gestão da mudança em tempos desafiadores e pós-graduado em neurociências. Conteudista especialista em liderança, protagonismo e gestão de mudanças, é professor da FGV, FDC e outras escolas de negócios. Escritor e fundador da Universidade da Mudança. Pioneiro no assunto “Inner Skills” no Brasil.
Atende grandes clientes como GPA/ Pão de Açúcar, Cobasi, Leroy Merlin, SBT, Marisa, Carrefour, MSD/Merck, Elanco, Kawasaki, GM, Fiat, Raízen/Shell, DHL, Caixa, Bradesco, Unilever, Bettanin/InBetta, Sebrae, SESC, Sabesp, Banco da Amazônia, Justiça Federal, Ministério Público, INPE, entre outros de diversos segmentos.
Suas palestras têm o diferencial do “conteúdo com leveza”, onde o professor apresenta conteúdos altamente atualizados e inovadores, mas sempre com uma linguagem acessível para todos os públicos, dosando informações, inspirações, ideias, bom humor e boas histórias. Através de mensurações na metodologia NPS junto aos contratantes, o índice de recomendação é de 100%.
As palestras não são “produtos de prateleira”, mas sim, projetos 100% personalizados e customizados para cada realidade, considerando as necessidades a serem atendidas, a cultura do cliente e o perfil do público.
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