Por Marcelo de Elias
Já faz muitos anos. Isso aconteceu logo no início da minha trajetória como líder.
Eu havia assumido a coordenação de uma equipe talentosa, mas desmotivada. Na época, eu estava determinado a reverter aquele cenário por meio de discursos inspiradores e reuniões motivacionais.
Eu preparava transparências impecáveis para usar no retroprojetor (sabe o que é isso?), falava com entusiasmo e tentava contagiar a equipe com minhas palavras. Esse era meu lado “palestrante” já dando sinais e se misturando com o papel de líder.
Mas algo não funcionava. Apesar do meu esforço, percebia olhares distantes e resultados inconstantes. Um dia, após mais uma reunião cheia de falas inspiradoras, um colaborador se aproximou de mim e disse, com respeito e sinceridade:
“O problema não é o que você fala. É que a gente não vê isso acontecer no dia a dia.”
Aquela frase me marcou. Entendi que, por mais bem-intencionadas que fossem as minhas palavras, elas soavam vazias se não fossem sustentadas por comportamentos coerentes.
Eu falava sobre pontualidade, mas frequentemente chegava atrasado. Falava sobre colaboração, mas centralizava decisões. Falava sobre inovação, mas reagia com cautela às ideias mais ousadas.
Foi nesse momento que percebi, com clareza, o verdadeiro poder da comunicação não verbal. A equipe não precisava de discursos inspiradores; precisava de um líder que encarnasse aquilo que pregava. E esse cara precisava ser eu.
“Palavras convencem e exemplos arrastam”
A frase de origem incerta (às vezes atribuída ao Confúcio e outras vezes atribuída ao Heráclito de Éfeso) traduz de forma simples e poderosa uma das maiores verdades. As palavras podem até gerar admiração momentânea ou inspirar reflexão, mas são os comportamentos consistentes que conquistam confiança e mobilizam pessoas.
O exemplo tem uma força silenciosa e irresistível: ele legitima o discurso, dá credibilidade à mensagem e cria um padrão de conduta que os outros naturalmente desejam seguir.
Em qualquer contexto, organizacional, educacional, familiar ou social, o exemplo é o motor que transforma intenções em ação e discursos em prática.
Desde então, nunca mais esqueci essa lição. Descobri que o exemplo é a linguagem mais poderosa que existe. Ele não apenas comunica, mas ensina, inspira e transforma. Foi ali que aprendi que liderar é, antes de tudo, ser coerente entre o discurso e a prática.
Entre as inúmeras competências atribuídas à liderança, a comunicação ocupa uma posição central e estratégica. Fala-se com frequência sobre clareza, assertividade, storytelling, feedbacks estruturados e técnicas de influência. No entanto, existe um elemento de natureza silenciosa, mas de poder transformador: a coerência entre o discurso e a prática. Em essência, a forma mais eficaz de comunicação da liderança é o exemplo.
A força da comunicação não verbal
Diversos estudos na área de psicologia social e comportamento organizacional demonstram que o impacto da comunicação vai muito além das palavras. As clássicas pesquisas de Albert Mehrabian (1967, 1971) já indicavam que uma parte significativa da interpretação de uma mensagem é influenciada pelo tom de voz e pela linguagem corporal, e não apenas pelo conteúdo verbal.
Mas o assunto aqui é mais profundo. Não se trata apenas de “saber dizer” com gestos e entonações, mas sim “também fazer” o que se diz.
Esse princípio se intensifica nos contextos de liderança, em que os colaboradores tendem a interpretar as ações do líder como a expressão mais autêntica de suas crenças e intenções.
Quando há incongruência entre o que se diz e o que se faz, surge o chamado leadership gap, um distanciamento de confiança que compromete a credibilidade, o engajamento e a coerência cultural.
Nesse contexto, a máxima “walk the talk” (agir de forma coerente com o que se fala) traduz uma verdade inescapável: ou a liderança caminha em consonância com seu discurso, ou sua comunicação perde legitimidade.
O exemplo como espelho da cultura
A cultura organizacional é, de forma prática, aquilo que a liderança estimula, reforça ou tolera.
Ela também é o reflexo do comportamento cotidiano dos líderes.
Um gestor que prega inovação, mas pune erros, comunica aversão ao risco. Aquele que exalta a colaboração, mas centraliza decisões, sinaliza autoritarismo. E o líder que defende o equilíbrio entre vida pessoal e profissional, mas perpetua jornadas extenuantes, comunica incoerência.
O exemplo é o elemento que traduz o discurso em verdade e que transforma valores declarados em valores vividos. É ele que confere substância aos princípios institucionais e os converte em comportamentos observáveis e consistentes.
Sua pregação acontece através da sua caminhada
Eu sempre cito uma frase de São Francisco de Assis em minhas palestras e aulas, independentemente de qualquer perspectiva religiosa, porque Francisco foi, acima de tudo, um grande líder do seu tempo.
“É inútil caminhar na intenção de pregar, a não ser que sua caminhada seja a sua pregação” – Francisco de Assis
Ela é uma síntese atemporal do que hoje chamamos de walk the talk. Em um mundo corporativo repleto de discursos sobre propósito, valores e cultura, ela nos recorda que a coerência é a forma mais poderosa de comunicação.
Falar sobre ética, colaboração ou inovação é importante, mas viver esses princípios no cotidiano é o que realmente inspira, ensina e transforma.
Essa reflexão é especialmente relevante para quem ocupa posições de liderança. O comportamento do líder é, de fato, o principal instrumento pedagógico dentro de uma organização.
Quando suas ações refletem o que ele comunica, cria-se confiança, legitimidade e alinhamento cultural. Porém, quando há incoerência entre o discurso e a prática, o resultado é o descrédito e o afastamento emocional das equipes.
A sabedoria de Francisco nos lembra que liderar é muito mais do que falar bem: é fazer de cada passo um testemunho vivo daquilo que se acredita.
O efeito cascata da liderança
O comportamento do líder possui um efeito multiplicador sobre a cultura organizacional. De acordo com uma pesquisa da Gallup, aproximadamente 70% da variação nos índices de engajamento de uma equipe está diretamente relacionada à atuação de sua liderança imediata. Isso demonstra que cada atitude, postura e decisão de um líder reverbera na forma como os colaboradores percebem o trabalho, a motivação e o propósito coletivo.
O exemplo, portanto, não se restringe a uma forma de comunicação; ele constitui uma poderosa ferramenta de gestão de pessoas. Por meio dele, criam-se padrões de conduta, definem-se limites e inspiram-se possibilidades, sem necessidade de discursos extensos ou campanhas formais.
Liderar é estar em constante observação
Na prática, liderar é aceitar a condição de estar permanentemente observado. Em reuniões, corredores, mensagens eletrônicas e interações informais, a liderança está sob o olhar atento de suas equipes. Mesmo quando não há palavras.
Essa visibilidade exige consistência.
Não basta ser exemplo em momentos de alta visibilidade; é na rotina, nas pequenas decisões e nos rituais cotidianos que a legitimidade se consolida. A coerência entre discurso e comportamento manifesta-se em práticas simples, como ouvir antes de decidir, valorizar ideias, reconhecer contribuições, admitir falhas e agir com integridade.
A inspiração que nasce da autenticidade
Ser exemplo não implica perfeição, mas autenticidade. Um líder que demonstra vulnerabilidade, reconhece suas limitações e mantém uma postura de aprendizado contínuo comunica mais confiança e credibilidade do que aquele que tenta parecer infalível.
As equipes não necessitam de heróis idealizados, mas de líderes humanos que traduzam, em sua conduta, os valores que desejam ver institucionalizados.
Enfim, em um ambiente corporativo cada vez mais complexo e ruidoso, onde as mensagens podem ser distorcidas e os discursos frequentemente soam retóricos, o comportamento da liderança emerge como a forma mais clara e potente de comunicação organizacional.
Quando o líder fala e age em convergência, ele inspira, mobiliza e transforma. O exemplo é a linguagem silenciosa que expressa coerência, confiança e cultura. É a comunicação que não necessita ser repetida, pois já se materializa nas ações cotidianas.
Liderar pelo exemplo é a forma mais eficaz de influenciar pessoas, consolidar culturas e deixar um legado de credibilidade e propósito.
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MARCELO DE ELIAS é Linkedin Top Voice. Mestre em inovação e design com MBAs em Estratégia (USP), Gestão de Pessoas (FGV), formação internacional em gestão da mudança em tempos desafiadores (University of Tampa/EUA) e pós-graduado em neurociência e psicologia positiva (PUC).
Conteudista especialista em liderança, protagonismo e gestão de mudanças, é professor da FGV, FDC e outras escolas de negócios. Escritor e fundador da Universidade da Mudança. Pioneiro no assunto “Inner Skills” no Brasil.
Atende grandes clientes como GPA/ Pão de Açúcar, Cobasi, Neoenergia, Leroy Merlin, SBT, Marisa, Carrefour, MSD/Merck, Elanco, Kawasaki, GM, Fiat, Raízen/Shell, DHL, Caixa, Bradesco, Unilever, Bettanin/InBetta, Sebrae, SESC, Sabesp, Banco da Amazônia, Justiça Federal, Ministério Público, INPE, Usiminas entre outros de diversos segmentos.
Através de mensurações na metodologia NPS junto aos contratantes, o índice de recomendação é de 100%. Top5 do CBTD, Top5 da KLA, Melhor palestrante de gestão de mudanças pela Associação Brasileira de Liderança.
As palestras não são “produtos de prateleira”, mas sim, projetos 100% personalizados e customizados para cada realidade, considerando as necessidades a serem atendidas, a cultura do cliente e o perfil do público.
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